sábado, 11 de setembro de 2010

PÓS GRADUAÇÃO NO HOSPITAL SÃO JULIÃO

60 HORAS NO SÃO JULIÃO


Neste mar sublime, sem águas
Regado de um verde acolhedor
Onde o balançar das árvores
Dão as boas vindas.
Num perfume inconfundível da natureza
Onde postados em cantos e bancos
Juntam-se aos afazeres das tarefas
No tamborilar das cigarras vivas
Ou entre suas carcaças grudadas em folhas ou troncos.
Onde os sabiás entoam um cantar melancólico,
Mas com sabor poético
Um som longínquo de máquinas nos diz que não estamos sós.
Até um urubu solitário vagueou por estas bandas
Procurando quem sabe a carcaça de uma cigarra
Ou por puro engano, pois aqui só há vida.
E quando um silêncio absoluto se faz
Lá vem o sabiá trazer a vida de volta
Saltitando entre as folhas ao chão.
E dividindo o tempo, estamos nós entre três, quatro parede
Ou mesmo sem paredes pelos cantos e bancos
Buscando, assim como os sabiás, as cigarras e o urubu(sem enganos)
Encontrar um caminho.
Mesmo que seja uma simples trilha ladeada por flores e cores
De todas as fragrâncias, mas que leve ao infinito.
Porque o saber(conhecimento) não tem fim.
Ele deve renascer a todo momento,
A cada momento em que se tira a máscara da ignorância.

120 HORAS EM SÃO JULIÃO

Que lugar é este, onde a natureza privilegia a vida
E a vida é um privilégio da natureza?
Novamente me vi as voltas de um sentar tranqüilo
Num canto não qualquer,
Mas beirado pelo velho pinheiro de idade indefinida.
Procurei em vão as carcaças grudadas nos troncos e folhas.
Onde está o poeta e sua cantoria melancólica?
E os tamborins das cigarras?
As máquinas se fizeram silêncio.
Até o urubu solitário quem sabe pra onde rumou.
Mas, e o silêncio? E se fizer macabro? Quem trará a vida de volta?
Será o João de barro que tão perto me olhava com olhos de ver?
Ou quem sabe a borboleta que pousou na flor com a suavidade da pluma,
E depois se foi num voar altaneiro?
Ou o colibri que beijou a flor, que pairou no ar e também se foi?
O olhar aguçado não me bastava.
Então era preciso o sentido real do ver e do enxergar
E quem sabe do escutar.
Mas o que faltava se nos cantos e bancos
Ainda estavam postados aos afazeres da leitura
Ou cercados pelas três, quatro ou sem paredes.
O que faltava então?
O sabiá que talvez se agasalhava no ninho na esperança da vida?
Será preciso um grito do silêncio pra me levar à realidade?
Ou era preciso apenas olhar com olhos de ver?
Já que eu sentia todas as fragrâncias.
Ou quem sabe mais uma vez tirar a máscara da ignorância?

180 HORAS EM SÃO JULIÃO
Novamente estávamos juntos.
Eu e o velho pinheiro.
O que parecia uma despedida,
Fez-se num diálogo de silêncio.
Não procurei pelos sabiás.
Porque os vi a alimentar seus filhotes.
Não procurei pelas carcaças.
Porque a primavera estava por chegar.
O João de Barro continuava com olhar de quem confia.
Tudo parecia como dantes.
Até que algo me chamou a atenção.
As árvores se faziam em novos brotos.
Era o sinal de um novo arborescer.
Nos cantos e bancos ainda estavam postados
aos afazeres do aprender.
Mas, o vento soprava com aroma da nova estação.
Era a primavera se aproximando.
Porque as folhas no seu vermelho escarlate caiam.
E outras de um verde musgo renasciam.
A borboleta em casulo esperava o reflorir.
E o colibri ainda pairava no ar em busca da fragrância.
Oh! Velho pinheiro! Velho pinheiro!
Que momentos tivemos juntos!
À sua sombra, me deliciei de sua imponência.
À sua sombra, me senti tão grande
como a fortaleza de seu tronco.
À sua sombra, velho pinheiro,
senti sua energia e senhor da natureza.
Como ei de te agradecer, velho pinheiro
Se não, ver como podes arcar o mundo inteiro
com seus fortes braços?
Como te agradecer, se não, ver como agasalhas
as criaturas divinas e as protegem do calor do sol
e do molhar das chuvas?
Oh! Velho amigo pinheiro!
Devias ser arrogante, mas não é.
E na sua simplicidade, se faz em moradia para tantos.
Agora me despeço em silêncio
Assim como foi o silêncio de nosso diálogo.
Com a certeza de que muito aprendi.
E você foi o canal de energia do meu aprendizado.
Até um dia, quem sabe.
Meu velho amigo, pinheiro.
Sávio de Oliveira

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MEU 2º LIVRO

JOGO O JOGO E DIGO



Falo de prisão, mas não é xadrez.

Falo de xadrez mas, não é prisão.

A soma das equações dilaceram a minha mente.

Não pertenço à vanguarda

nem transformo música erudita.

Não crio o começo

não existe o meio,

nem tão pouco o término.

Sinto-me poeta

Até a última força de minhas cordas vocais.

Canto em turbilhões de vozes

uma única melodia

até a orlada auto-destruição.

E continuo cantando após a morte.

Sinto-me José,

Pois amo o tudo e possuo a única arma:

O continente... e a palavra.

Jogo o jogo e digo...

Que o verdadeiro poeta

tem vantagens sobre mim.

Ele possui o amor,

Coisa que também possuo.

Nele está a tristeza espiritual

em mim a tristeza carnal.

Mas não sinto o sexo na figura

ou como uma dor de barriga.

Não sou protagonista de festa,

sou apenas a peça.

Sou traído pelo meu próprio corpo,

pela própria mente.

Errei e sinto-me fraco e cansado.

Em cores transparentes

Vejo o que me transformo.

Sinto-me pequeno

Quero o carinho roubado pelas máquinas

Quero generalizar minha sorte.



QUERER



Que me sepultem num lugar onde só...

Mas terei muitos em meu redor.

Levem os pássaros p`ra cantar na alvorada.

E novas cantigas ressoem no entardecer.

Que muitas flores vão colorir aquele lugar.

E que seja sombra p`ra me agasalhar.

E que cantem hinos e orem neste pedaço.

Fazendo dele meu único espaço.



POETA



Ser poeta é mergulhar no mais profundo do ser e se despertar.

É ir de encontro à sua criança e liberta-la.

Ser poeta é amar as flores, sentir o voar dos pássaros e o som da brisa.

Cantar o mais belo dos hinos e velejar em mares calmos e serenos.

Ser poeta é sentir-se muito próximo ao abstrato.



UM CARNAVAL EM ANGICO



Na estrada, uma porteira de varas com dois mourões apenas.

Um riacho de águas límpidas paralelava o caminho.

Lá no fundo, a casa, a bica e a choça onde uma rede se estendia.

Lá embaixo um verde vale que parecia não ter fim onde vários riachos se uniam.

Entre dois montes bem próximo ao horizonte,

uma chuva que parecia mais umas fumaça caia.

E entre dois outros, como se fosse um imenso fogo,

o clarão que descia.

Papagaios passaram cantando um canto de carnaval

e se misturaram ao verde das árvores.

A cachoeira com seu estrondo fantástico

parecia mais um campo de concentração.

Em volta da casa uma água mansa com seu tilinta,

reinava a paz tranqüila como chuvas de verão.

À tardinha o céu se nublou de vez.

O vale continuou imenso e verde.

Os pássaros continuaram nos seus cantos de alvorada.

Na bica, a água caia serena e se deslizava pela ribanceira.

E lá no horizonte, entre dois montes

ainda se avistava um clarão.



SEU POEMA (À Dagmar)



Agora faço seu poema como se rega uma planta.

Faço seu poema como o desabrochar de uma rosa.

Faço seu poema como vejo a noite criança.

Como vejo a lua na semi-claridade de uma madrugada,

entre o tilintar das perdidas estrelas.

Faço seu poema como se fosse a vida se desenrolando dia a dia.

Como se fosse a tarde, cada fim de tarde.

Faço seu poema como se brinca com palavras,

desafiando linhas e papel rasgado.

Faço seu poema como se fosse o sol procurando se abrigar no horizonte.

Faço seu poema, como faço tudo, como faço o tempo, como faço seu poema.

Como se fosse pássaros fazendo no entardecer novas revoadas.

Faço seu poema como se fosse a gente fazendo nova caminhada.



UMA ROSA COM AMOR



Rachando-se com esforço da vida, vi a terra ceder aos poucos

Nasceu dela um broto, a quem a natureza serviu, amamentou.

De pequenino que era com o tempo vi braços de alegria reflorar

Estendendo-se no espaço que a graça lhe sorriu.

Uma vez madura, a planta não deixou de retribuir o dom recebido:

Uma rosa faceira em cujo perfume a brisa se deliciou.

Nesta manhã, quando o sol, rápido aqueceu o coração romântico,

a rosa te sorriu um sorriso inocente que se apagou na sua mão.

Lindo ela chorou da nobreza dos espinhos

Que respeitaram a mão sensível que a ofertou.

Lançando fora a beleza murcha,

Não percebeu a mão distraída,

Que outra flor nasceu,

Da lágrima da mãe que chorou.



APELO



Pântanos, rios e corixos

Belas aves, vida e beleza

Querem destruir os animais

Salvem os animais

Querem destruir os pantanais.



Se nada disso resolver

Nada mais se tem a falar

Tanta gente vai sofrer

Sem ter lugar onde morar.



Salvem os animais.

Salvem os pantanais.



O verde que era verde não tem cor.

O branco que era branco avermelhou

A luza que existia se acabou.

E a escuridão se apoderou.



Vamos salvar os animais.

Vamos salvar os pantanais.



O peixe rio acima se mandou.

O bicho todo o homem matou.

As aves não ficaram para ver.

O lindo pantanal a li morrer.



TOBIAS DO PANTANAL



Tão esquecido do tempo nem sabia quando nascera

Idade não se calculava e a voz já se confundia

Mas, de muito não esquecera.

Num casebre de mata, horas se passavam e p`ra mim ele não mentia.

Disse passagens de sua vida, falou tristezas e alegrias

Contou do rio dos peixes e dos jacarés seus vizinhos

Das cobras do outro lado e de seu filho amado

À beira de um corixo, sem vida e que chorou sobre ele,

Que os pântanos se encheram de lágrimas abafando seus soluços.

Quase no desespero da velhice olhou p`ro alto na esperança

de encontrar um Deus, que se manifestou no esvoaçar suave

de uma garça.

...Ele deveria viver ainda que sozinho

Na doçura das matas

No silêncio dos pântanos

No silêncio da paz.



TUA POESIA (Lino Vilachá)



Na tua poesia vejo

o tema e o lema

da dor, da cor, do amor.



Amargura, doçura, ternura,

lembrança, esperança.



Jardim de flores coberto.

Flores das mais lindas.



Brancas, amarelas, azuis, rosas...

E você num sorriso, reunindo todas as cores

desse arco-íris terrestre,

que é o jardim de sua poesia.



Tua poesia leva



Numa corrida fantástica o teu corpo

sobre uma cadeira de rodas, mas

tua alma, a esvoaçar feliz.



E no bosque encantado...

Onde finda tua corrida...

tua mão joga pedrinhas nos peixes

de um rio de águas cristalinas

enquanto tua essência de poeta

confabula com as maravilhas astrais

do universo.



KURUMIM



Caminhos tortos, casas abafadas, perdidos.

Tentando se achar entre

um formigueiro de formigas

inteligentes, misturadas

na palha,no jogo.

E a certeza do amanha,

O encontro

envolvendo num dinamismo constante,

a mesa, entre as folhas, livros e cadernos.



E os gritos, gritos, gritos

entre pensamentos corroídos

e sonhos bonitos

e cheirando cola, cola, cola.



Misturados a uma vontade secreta de ter.

Com borrões nas paredes,

palavras marcadas e pés no chão.

Briga, discussão, espinho na mão.



Mas cada dia, cada fim de tarde

Levo a vontade e a certeza

de colher flores desse jardim.



MUNDO INFANTIL, UMA ESCOLA PARA ADULTOS



Deixei que as crianças entrassem

por um muro sem portas,

nestas portas sem muros.

Tirei meus pés do caminho para

que eles não servissem como obstáculos.

E eles me ensinaram a levantar muralhas sem pilares.

Deixei que me experimentassem

uma a uma até que sentissem

a verdade de minhas intenções.

Até que minha presença

fosse justificada em seu meio,

deixei que me criticassem,

como se eu mesmo fosse o erro

e devesse nele me censurar ou me calar.

Deixei, então que me ensinassem sendo eu

um simples joguete de sua sabedoria.

Aprendi...aprendi...aprendi.

como se estivesse numa escola

e me fosse ensinado problema por problema

com soluções e mais soluções.

Nas suas desavenças aprendi o bem que existe.

Nas palavras, que mesmo agressivas

vem carregadas de sentimentos.

Na revolta tem o amor,

na rebeldia, a dor,

nos sonhos, muitas flores

que se abrirão num dia de sol.



SETE DE SETEMBRO



Naquele dia, na beira de um rio

Um homem se aproximou e pro alto olhou.

De sua garganta um grito se ouviu

Era o fim de um império e o começo do Brasil.



Pois tão longe ecoou

Sua voz no infinito

Independência ou morte

Ouviu-se de um grito.



Em todos os cantos dessa nação

Criou-se em rimas uma canção

De um grito distante cheio de glória

Abre-se a primeira página de nossa história.