Neste mar sublime, sem águas
Regado de um verde acolhedor
Onde o balançar das árvores
Dão as boas vindas.
Num perfume inconfundível da natureza
Onde postados em cantos e bancos
Juntam-se aos afazeres das tarefas
No tamborilar das cigarras vivas
Ou entre suas carcaças grudadas em folhas ou troncos.
Onde os sabiás entoam um cantar melancólico,
Mas com sabor poético
Um som longínquo de máquinas nos diz que não estamos sós.
Até um urubu solitário vagueou por estas bandas
Procurando quem sabe a carcaça de uma cigarra
Ou por puro engano, pois aqui só há vida.
E quando um silêncio absoluto se faz
Lá vem o sabiá trazer a vida de volta
Saltitando entre as folhas ao chão.
E dividindo o tempo, estamos nós entre três, quatro parede
Ou mesmo sem paredes pelos cantos e bancos
Buscando, assim como os sabiás, as cigarras e o urubu(sem enganos)
Encontrar um caminho.
Mesmo que seja uma simples trilha ladeada por flores e cores
De todas as fragrâncias, mas que leve ao infinito.
Porque o saber(conhecimento) não tem fim.
Ele deve renascer a todo momento,
A cada momento em que se tira a máscara da ignorância.
120 HORAS EM SÃO JULIÃO
Que lugar é este, onde a natureza privilegia a vida
E a vida é um privilégio da natureza?
Novamente me vi as voltas de um sentar tranqüilo
Num canto não qualquer,
Mas beirado pelo velho pinheiro de idade indefinida.
Procurei em vão as carcaças grudadas nos troncos e folhas.
Onde está o poeta e sua cantoria melancólica?
E os tamborins das cigarras?
As máquinas se fizeram silêncio.
Até o urubu solitário quem sabe pra onde rumou.
Mas, e o silêncio? E se fizer macabro? Quem trará a vida de volta?
Será o João de barro que tão perto me olhava com olhos de ver?
Ou quem sabe a borboleta que pousou na flor com a suavidade da pluma,
E depois se foi num voar altaneiro?
Ou o colibri que beijou a flor, que pairou no ar e também se foi?
O olhar aguçado não me bastava.
Então era preciso o sentido real do ver e do enxergar
E quem sabe do escutar.
Mas o que faltava se nos cantos e bancos
Ainda estavam postados aos afazeres da leitura
Ou cercados pelas três, quatro ou sem paredes.
O que faltava então?
O sabiá que talvez se agasalhava no ninho na esperança da vida?
Será preciso um grito do silêncio pra me levar à realidade?
Ou era preciso apenas olhar com olhos de ver?
Já que eu sentia todas as fragrâncias.
Ou quem sabe mais uma vez tirar a máscara da ignorância?
180 HORAS EM SÃO JULIÃO
Novamente estávamos juntos.
Eu e o velho pinheiro.
O que parecia uma despedida,
Fez-se num diálogo de silêncio.
Não procurei pelos sabiás.
Porque os vi a alimentar seus filhotes.
Não procurei pelas carcaças.
Porque a primavera estava por chegar.
O João de Barro continuava com olhar de quem confia.
Tudo parecia como dantes.
Até que algo me chamou a atenção.
As árvores se faziam em novos brotos.
Era o sinal de um novo arborescer.
Nos cantos e bancos ainda estavam postados
aos afazeres do aprender.
Mas, o vento soprava com aroma da nova estação.
Era a primavera se aproximando.
Porque as folhas no seu vermelho escarlate caiam.
E outras de um verde musgo renasciam.
A borboleta em casulo esperava o reflorir.
E o colibri ainda pairava no ar em busca da fragrância.
Oh! Velho pinheiro! Velho pinheiro!
Que momentos tivemos juntos!
À sua sombra, me deliciei de sua imponência.
À sua sombra, me senti tão grande
como a fortaleza de seu tronco.
À sua sombra, velho pinheiro,
senti sua energia e senhor da natureza.
Como ei de te agradecer, velho pinheiro
Se não, ver como podes arcar o mundo inteiro
com seus fortes braços?
Como te agradecer, se não, ver como agasalhas
as criaturas divinas e as protegem do calor do sol
e do molhar das chuvas?
Oh! Velho amigo pinheiro!
Devias ser arrogante, mas não é.
E na sua simplicidade, se faz em moradia para tantos.
Agora me despeço em silêncio
Assim como foi o silêncio de nosso diálogo.
Com a certeza de que muito aprendi.
E você foi o canal de energia do meu aprendizado.
Até um dia, quem sabe.
Meu velho amigo, pinheiro.
Sávio de Oliveira
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